sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Manifesto.Por Arlete Guimarães Nilfeia G.


Manifesto.Por Arlete Guimarães Nilfeia G. 

Nas minhas andanças pelo universo virtual, faço muitos amigos e entre eles, um, especial, por ser um lavrador ( ou, sem terra), um militante do movimento pelo direito à terra,  que me tem dado muita luz a respeito dos movimentos de luta no campo.
Ele me fala de  um  trabalhador sem terra , sobrevivente de um massacre, que vive clandestinamente há 15 anos, pois foi jurado de morte.
Naturalmente que, diante do quadro assustador das lutas no campo, com a falta da reforma agrária, com a omissão das autoridades governamentais para esse problema secular, ele não é o primeiro e nem será o ultimo a estar nessa situação.
Ele me fala do Massacre de Corumbiara, em Rondônia, Norte do Brasil, mais precisamente na região amazônica, que ocorreu em 9 de agosto de 1995,
O Massacre de Corumbiara está completando este mês de agosto, 16 anos.
Importa muito o que aconteceu naquela madrugada  onde morreram pelo menos 10 trabalhadores agricultores( pelos números oficiais) ,inclusive, uma criança de 6 anos.E dois policiais militares.
Claudemir Gilberto Ramos, juntamente com Cícero Pereira Leite Neto,  foi julgado e condenado, em 2005, pela morte desses policiais militares durante o episódio conhecido como Massacre de Corumbiara, em 9 de agosto de 1995, na cidade do mesmo  nome , no Estado de Rondônia; Claudemir foi condenado,também,  por prática de cárcere privado sob a  acusação de ter mantido os agricultores dentro da área de ocupação onde ocorreu o episódio, ou seja a Fazenda Santa Elina.
Importa muito que dois agricultores, sobreviventes do massacre, tenham sido condenados cinco  anos depois e até agora não se ter notícia de quantos  policiais militares tenham sido condenados pela morte desses 10 agricultores e dessa criança.
Importa muito que quem ordenou o ataque, durante a madrugada, inclusive quando, as famílias estavam dormindo ( porque eram famílias que se encontravam ocupando a  fazenda)tb não se tenha noticia de que tenha sido condenado. Foi o governo? Foram os fazendeiros?Afinal, eram tropas oficiais que estavam , também,  lá!
Então, porque condenaram  os dois agricultores?
Certamente, tem lógica vez que Claudemir , na época, aos 23 anos, já era um líder de movimento, ou seja, tão jovem e já com tanta responsabilidade .Mas é que o trabalho na terra não escolhe a idade ,o que existe é muito trabalho a ser feito, vontade  de semear e colher para a sua subsistência, dos seus e da própria sociedade.Afinal, o feijão com arroz vem da agricultura familiar e é o que a maioria dos brasileiros como no cotidiano. A soja, o grão de exportação, é um produto extremamente caro, cultivado pelos grandes senhores da terra. 
Ora, se no Brasil temos, diariamente, notícias de que pessoas  de cargos públicos, estão envolvidos em algum tipo de irregularidade e ,na verdade, o que se vê é que eles estão por aí, indo e vindo, sem que ninguém se incomode, ainda que os processos sejam instaurados mas eles, com suas influências e poder econômico, vão conseguindo burlar as leis, porque então penalizar duas pessoas que apenas lutam por um pedaço de terra para trabalhar e uma delas, Claudemir, foi também, massacrado sob torturas  durante o episódio?
Claudemir e Cícero viram todos os seus recursos negados. Claudemir, desde o massacre, vive foragido, pois tem a cabeça a premio por parte dos senhores da terra e além do mais, não aceita ser recolhido à prisão pela condenação porque sabe que ela foi um instrumento para que ele fosse trancafiado em uma prisão onde será alvo fácil para ser assassinado.
Se todos os recursos judiciais foram negados, porque então não pensar em recorrer a outro poder  , ou seja, requerer a anistia?
Anistia é o ato pelo qual o poder público, mas especificamente o poder legislativo, declara impuníveis, por motivo de utilidade social, todos quantos, até certo dia, perpetraram  determinados delitos,em geral, políticos, seja faznedo cessar as diligências persecutórias, seja tornando  nulas e de nenhum efeito as condenações.A anistia anula a punção e o fato que a causa
Por que os deputados e senadores não se sensibilizem para essa situação ?Como legisladores tem o poder de elaborar um projeto de lei de anistia para CLAUDEMIR e CICERO.Falta apenas a vontade política de fazer.E a nós, sociedade, o dever de sermos solidários com essas pessoas que,na verdade, não cometeram crimes e apenas se defenderam  da opressão.
O tempo não é um termômetro, como muitos insistem em dizer; nossa mente é que mede nossa vida e lhe dá longevidade Enquanto ela estiver ativa, teremos vontade e resistiremos ao que pode  nos causar mal estar.
Na verdade, como uma pessoa consciente e conscientizada, eu sempre vi os movimentos dos que costumam chamar de sem terra, com bons olhos, porque, vem do campo o que comemos.
O trabalhador do campo assim como o professor são aqueles que estão na base de todo o desenvolvimento das pessoas, Se você não comer satisfatoriamente, não tem  forças para fazer nada; se você não se instrui, não  adquiri conhecimento para  fazer as mudanças necessárias em sua própria sociedade.
Não tenho nada contra os movimentos sociais de grupos específicos, como de mulheres, étnicos, idosos, homossexuais, mas eu vejo que há necessidade de um movimento maior que é pela justiça social como um todo e para todos e  começando pelo campo, de onde vem nossos alimentos.
A natureza nos dá tudo que  precisamos ,  basta sabermos aproveitar, utilizar ,transformar com seriedade, porque dá para todos, basta não haver intolerância, arrogância , usura, ambição, ganância
Infelizmente ,ainda estamos muito longe de chegar a essa transformação quando  o agricultor possa ter o direito  trabalhar na terra, plantar, colher.simples assim,sem precisar ser massacrado por isso.
Como cidadã, sinto-me angustiada diante dessa realidade em que pessoas que querem  trabalhar na terra, que querem produzir  os alimentos que comemos, não têm condições de fazer seu trabalho e nem ao menos de prover a subsistência de sua família porque os governos todos entram e saem sem promover a reforma agrária, ou seja, distribuição de terras para quem quer trabalhar nela, acabando com as imensas terras que servem a monoculturas de soja, laranjas, etc. (para a exportação) e para o pasto.
A terra é para todos poderem usufruir dos bens que ela pode produzir; nada de plantar apenas uma coisa, mas, sim tudo o que se consome no dia a dia para o saudável desenvolvimento das pessoas.
As pessoas que ocupam terras não são vândalos, bandidos, infratores, meliantes, elas são pessoas que querem ser trabalhadoras da terra. Basta ver os exemplos dos assentamentos , comunidades onde as pessoas vivem, trabalham, estudam, ou seja, levam uma vida sem glamour, mas que lhes dá a certeza de sua dignidade.
Assim, estou aqui, sendo solidária  e convidando a todos para juntarem-se a essa luta ,por acreditar que  essa é uma luta que tem que ser de toda a  sociedade
A tarefa não é fácil, mas as formiguinhas só constroem  unidas. Separadas elas se perdem!.