terça-feira, 7 de junho de 2011

OAB: assassinatos de líderes rurais se devem à omissão e descaso do Estado


07/jun/2011

Fonte: OAB - Conselho Federal
Omissão, irresponsabilidade e improbidade administrativa. Eis os principais "qualificativos" que se pode atribuir às autoridades públicas federais e estaduais pela expansão da criminalidade e o clima de impunidade e descaso em que vive a população na região de Extrema, a cerca de 400 km de Porto Velho (RO), na tríplice fronteira de Rondônia com Acre e Amazonas - relata o diretor-tesoureiro do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Miguel Ângelo Cançado, que  integrou pela entidade uma Comissão Externa do Senado formada para investigar os assassinatos de líderes rurais que ali lutavam contra a exploração ilegal de madeiras. A última vítima, na semana passada, foi o agricultor Adelino Ramos,o Dinho, líder remanescente do Movimento Camponês de Corumbiara (RO), onde houve o massacre de sem-terras. Ele foi executado a tiros na frente da esposa e das filhas no último dia 27 em Vista Alegre do Abunã. "Na verdade, o que vimos é o retrato de mais de quinhentos anos de completo abandono, de sofrimento, pois as pessoas aqui ouvidas, muito embora sejam simples e, em geral, com pouco ou nenhum grau de instrução, sabem que existe uma Constituição Federal a lhes garantir direitos, mas também sabem que essas garantias estão ainda muito distantes delas, pois não vêem, senão nos momentos de campanhas eleitorais, a perspectiva de serem inseridas no contexto de cidadania|" - escreveu Miguel Cançado em seu relatório sobre a viagem com os senadores, feita num avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Seu denso relato sobre os dramas da região foi encaminhado ao presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, que o examina para encaminhamento de ações e cobrança de providências.
Para Miguel Cançado, "irresponsabilidade e improbidade administrativa, é o mínimo que se pode atribuir às autoridades públicas federais e dos três Estados, muitas delas coniventes com os crimes que se avolumam em proporções alarmantes". Ele anotou também em seu relato ao presidente nacional da OAB que "uma das cobranças mais intensas apresentadas pelos presentes foi a elucidação dos crimes, como o do agricultor Dinho e a imediata punição dos culpados -  aliás, a certeza da impunidade também foi alvo de diversos pronunciamentos e do protesto de muitos".
A seguir, a íntegra do relatório de Miguel Cançado sobre a visita da comissão de senadores e representantes de entidades a Extrema, em Rondônia:
"Cerca de duzentos trabalhadores, produtores e proprietários rurais estiveram reunidos nesta segunda-feira na audiência pública promovida pelo Senado Federal, ocorrida no Ginásio de Esportes do Distrito de Extrema na divisa entre os Estados de Rondônia, Acre, Amazonas e a Bolívia.
Audiência foi conduzida pela senadora Vanessa Graziotin (PCdo B-AM) e contou ainda com a presença do representante do CFOAB, o DT, MAC, ainda os senadores Valdir Raupp (PMDB-RO), Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
O abandono a que está submetida a população local e a completa ausência do Estado brasileiro foram as palavras de ordem mais invocadas pelos participantes do evento.
A região é extremamente pobre e falta tudo, saneamento, água, saúde, educação, segurança, transportes, rodovias. A falta de segurança e o constante conflito fundiário na região têm motivado a morte de lideranças e trabalhadores rurais, como a do agricultor Adelino Ramos, o Dinho, ocorrida no último dia 27.
Há anos a população local reivindica a emancipação do Distrito de Extrema, tendo sido aprovada a criação em plebiscito realizado em 2010, mas o processo encontra-se no Congresso Nacional.
Para o DT, MAC, o que se vê na região hoje visitada é uma face cruel, perversa, do descaso do Estado brasileiro para com a gente que vive à espera do cumprimento de promessas históricas de solução das questões fundiárias e da chegada de um mínimo de dignidade e de justiça social.
Na verdade, o que vimos é o retrato de mais de quinhentos anos de completo abandono, de sofrimento, pois estas pessoas aqui ouvidas, muito embora sejam simples e, em geral, com pouco ou nenhum grau de instrução, sabem que existe uma Constituição Federal a lhes garantir direitos, mas também sabem que essas garantias estão ainda muito distantes delas, pois não vêem, senão nos momentos de campanhas eleitorais, a perspectiva de serem inseridas no contexto de cidadania.
Perguntado se sabia quem teria executado ou mandado executar o agricultor Dinho, Aparecido Bispo diz, no microfone, para todos ouvirem, não ter dúvida de que foi o Estado brasileiro que o matou, por não vir aqui garantir um mínimo de segurança às pessoas, sobretudo aquelas ameaças publicamente de morte. A região, dizem alguns,  é um verdadeiro barril de pólvora, prestes a explodir a qualquer momento.
Irresponsabilidade e improbidade administrativa, é o mínimo que se pode atribuir às autoridades públicas federais e dos três Estados, muitas delas coniventes com os crimes que se avolumam em proporções alarmantes.
Não faltaram duras críticas à FUNAI e ao IBAMA, que não tiveram representantes na audiência.
É possível ver no rosto das pessoas a angústia pelo descaso e pela insegurança quanto ao futuro de cada um. Por isso, o que se espera é que o Senado Federal aja com firmeza na condução das graves mazelas hoje denunciadas.
Um País que se pretende grande, que quer exibir números de crescimento significativos à comunidade internacional, que almeja extirpar a fome e a miséria entre os seus, não pode conviver com esta realidade, não pode ver cidadãos em número elevado sendo tratados na mais plena falta de condições humanas.
Uma das cobranças mais intensas apresentadas pelos presentes foi a elucidação dos crimes, como o do agricultor Dinho e a imediata punição dos culpados. Aliás, a certeza da impunidade também foi alvo de diversos pronunciamentos e do protesto de muitos.
Enfim, pessoas que mal sabem manifestar seus sentimentos, fizeram relatos emocionados e entusiasmados para pedir que as autoridades presentes, em especial os Senadores, levassem a Brasília seu grito de socorro, querendo dizer que o Brasil precisa, urgente, olhar para a região amazônica com a vontade não só da preservação do meio-ambiente, mas sobretudo da necessidade de levar dignidade às pessoas humanas, sob pena de pagar um preço muito alto pela histórica omissão hoje denunciadas publicamente em Extrema no Estado de Rondônia.
Na volta da delegação a Porto Velho, o presidente da OAB-RO, Hélio Vieira, esteve com o DT MAC e com os senadores, oportunidade em que falou das providências e iniciativas da Seccional, que inclusive criou e instalou comissão específica para tratar da questão agrária e da violência no campo no seu Estado. Hélio Vieira, que é muito ligado aos movimentos sociais, manifestou ao diretor do CF suas preocupações e a disposição de também contribuir para que se avance na solução dos problemas da região".

Produtores rurais cobram regularização fundiária na Amazônia


Os trabalhadores rurais, alguns com mais de 20 anos na região, apontam a falta de titularidade de terras como a base do conflito agrário nos municípios da fronteira do Amazonas.
[ i ] Senadores e representantes do governo do Amazonas receberam denúncias dos trabalhadores rurais.
Manaus - Representantes do Governo do Amazonas e uma comissão de senadores se reuniram, ontem, com cerca de 200 trabalhadores rurais, em Extrema, distrito do município de Porto Velho (RO), a 70 quilômetros de Bela Vista da Ponta do Abunã, onde o líder do Movimento Camponês Corumbiara, Adelino Ramos, foi assassinado, há duas semanas, e ouviram a mesma reivindicação de todas as lideranças: a regularização fundiária.
Os trabalhadores rurais, alguns com mais de 20 anos na região, apontam a falta de titularidade de terras como a base do conflito agrário nos municípios da fronteira do Amazonas. Eles cobram a implementação do programa Terra Legal do governo federal, criado há dois anos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.
De acordo com o presidente do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Amazonas (Idam), Edimar Vizzoli, em dois anos, o Terra Legal deu título para apenas nove propriedades do Amazonas, que já estavam com o processo em andamento.
“Sem a regularização fundiária é muito difícil fazer qualquer coisa”, disse a senadora Vanessa Grazziotin (PcdoB-AM), depois de ouvir as queixas dos agricultores. O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) reconhece que “há uma insegurança jurídica na região” pela falta de regularização fundiária, e  cobrou a presença do Estado. “A Força Nacional de Segurança por aqui, como propôs a presidente Dilma Rousseff, inibe a ação de criminosos”, afirmou o senador.
O representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Sérgio Brito, se diz desiludido com a atuação nos órgãos govenamentais porque sempre agem em favor do grandes proprietários rurais. “O Ibama só multa os pequenos agricultores; os grandes produtores desmantam à vontade e não sofrem nenhuma punição”, reclamou.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário também é acusado por Brito de fazer vista grossa para os assentamentos. “A gente espera há mais de 20 anos pela regularização das terras e nada acontece. Enquanto isso, o poder econômico está avançando e matando os trabalhadores”.
Ação do Estado
O Governo do Amazonas montou uma operação que envolve a Polícia Militar, Polícia Civil, Idam, Instituto de Proteção Ambiental (Ipaam), Comissão Executiva de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Codesav) e Secretaria de Fazenda (Sefaz) para tentar frear os conflitos no sul do Estado.
A base da operação será montada no distrito de Extrema. O secretário estadual de Produção Rural, Eron Bezerra, explicou que o caminho mais próximo para se chegar àquela região de conflito no lado do Amazonas são os ramais que ligam os assentamentos à BR-364. É nos distritos de Nova Califórnia, Extrema e Vista Bela do Abunã que os produtores rurais do Amazonas vendem a produção agrícola e foi nessa atividade que Adelino Ramos foi assassinado.
Edimar Vizzoli disse que atualmente o Idam atua apenas no distrito de Nova Califórnia, mas vai mudar-se, nos próximos dias para Extrema, por ser uma área central.
Com a autorização do governo de Rondônia, o Idam vai montar um escritório local, junto com o Ipaam, para oferecer assistência técnica aos assentados. O Ipaam vai atuar na fiscalização do desmatamento e na orientação da regularização ambiental. Mas nada poderá ser feito sem a regularização fundiária.

Missa é celebrada na Câmara em homenagem a trabalhadores assassinados no campo



Compareceram à missa os deputados Domingos Dutra (PT-MA), Érica Kokai (PT-DF), Claudio Puty (PT-PA) e Pedro Ucsai (PT-SC).

Uma missa foi celebrada hoje (7) pela manhã pelo deputado federal Padre Ton (PT-RO) em memória a José Claudio Ribeiro da Silva, Maria do Espírito Santo da Silva, Adelino Ramos e Heremilton Pereira dos Santos, assassinados na área rural do Pará e Rondônia no mês de maio. A iniciativa foi dos deputados Claudio Puty (PT-PA) e Janete Pietá (PT-SP).



A celebração contou com a presença do administrador de Vista Alegre do Abunã Agenor Santos Oliveira, e seu pai João Paulo Santos Oliveira, produtor rural que mora em Candeias do Jamari. Agenor lembrou à rádio Câmara que Adelino Ramos, o Dinho, tinha denunciado madeireiros que atuavam ilegalmente na região numa audiência pública realizada em Manaus, no ano passado.



“No meu entendimento o que falta na região de Vista Alegre do Abunã é a execução de políticas públicas na questão fundiária. Ali é praticamente tudo terra da União, e isso precisa ser resolvido. A grilagem acontece, e com ela a violência”, disse Agenor.



Além dos representantes de Rondônia, 15 representantes de associações e sindicatos de extrativistas do Pará participaram da celebração, marcada pela solidariedade e emoção. Padre Ton foi auxiliado pelo padre Amaro, da cidade de Anapu (PA), onde a irmã Dorothy Stang foi assassinada.



“Dom Helder Câmara disse que religião é amor. E deve ser justiça”, disse o deputado na celebração, que durou cerca de 40 minutos, no plenário 12 e durante o ato foi citado pelos presentes os nomes de diversos trabalhadores assassinados na Amazônia.



Compareceram à missa os deputados Domingos Dutra (PT-MA), Érica Kokai (PT-DF), Claudio Puty (PT-PA) e Pedro Ucsai (PT-SC).

Camponeses contabilizam vitórias

07/06/2011

Poucos dias após a morte do líder Adelino Ramos (Dinho), no último dia 27 em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho, o Movimento Camponês Corumbiara (MCC) obteve duas conquistas agrárias. Mais de 15 anos após o conflito agrário conhecido nacionalmente como “Massacre de Corumbiara”, do qual Dinho foi sobrevivente, a Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) concluiu na semana passada o processo de aquisição da fazenda Santa Elina, onde ocorreram 12 mortes.
A área, juntamente com um Projeto de Assentamento Florestal (PAF), no Sul do Amazonas, que deve ser criado nos próximos dias, será prioritariamente destinada às famílias remanescentes do MCC. Em todo o Estado, cerca de 4,8 mil famílias estão vinculadas aos acampamentos do Incra e parte dessa demanda deve ser beneficiada pela luta do MCC.
O superintendente do Incra em Rondônia, Carlino Lima, explicou que já saiu uma ordem de empenho de cerca de R$ 6 milhões para pagamento de benfeitorias, como pastagens e currais, sendo o restante pago em Títulos de Dívida Agrária (TDA), resgatáveis em até 20 anos, para aquisição da área da fazenda, que é de 14,8 mil hectares. A ordem de empenho saiu na semana passada e, segundo Lima, não teve nenhuma influência com a morte de Dinho. “Esse processo já vinha andando desde 2009. Não houve influência direta com o episódio. É uma pena que ele não tenha vivido para ver”, esclareceu.
 Após a efetivação do pagamento, o Incra entrará com ação de emissão da posse, através de ordem judicial. No entanto, o prazo para emissão, necessária para o início da criação do PA, pode variar. “É uma situação que não se pode precisar porque depende de ação judicial. Mas a média é de 120 dias para emitir a posse”, disse Carlino.
O Incra deve ainda fazer um levantamento agronômico e a demarcação prévia e seleção das famílias. O superintendente estima que a qualidade do solo deve permitir o assentamento de até 400 famílias. “A prioridade do assentamento nessas áreas é para 130 famílias dos remanescentes de Corumbiara”, afirmou, acrescentando que acampados da região também devem ser assentados.
Para garantir a sustentabilidade do PA, o superintendente do Incra afirma que serão intensificados os trabalhos de assistência técnica com vistas a orientar os agricultores para a diversificação da produção.
Conflitos na região norte ganham repercussão
Os conflitos agrários no Norte do Brasil ganharam ampla repercussão nacional após cinco mortes registradas em Rondônia e no Pará e resultaram na criação de uma Comissão Interministerial para apurar os episódios. De acordo com o superintendente do Incra em Rondônia, outras oito áreas em situação de tensão estão em processo de desapropriação em conclusão ou adiantadas. Entre elas, uma fazenda denominada Leme, que fica em uma área de três mil hectares, entre os municípios de Ariqueme e Buritis; outra de 18 mil hectares na região de Machadinho do Oeste, conhecida como Cabeceira e Belo Horizonte; além de quatro áreas de 800 hectares em Theobroma, que estão em fase mais adiantada.
Para o Sul do Amazonas, a Superintendência do Incra daquele Estado anunciou a criação do PAF Curuquetê, em uma área que fica na divisa com Rondônia, próxima a Vista Alegre do Abunã, alvo de madeireiros que atuavam irregularmente. Para o PAF foram destinados 41 mil hectares, uma antiga reivindicação do MCC, que deve beneficiar 100 famílias, sendo que 25 já foram inscritas. O alerta é que as famílias que estão sendo selecionadas devem ter aptidão em atividades florestais. O Incra fará a demarcação do assentamento, melhoria das estradas de acesso e a elaboração do plano de manejo do PAF.


Aumento de crimes no campo na região Norte preocupa


Senadores foram à Rondônia ouvir os produtores rurais.
A morte de Adelino Ramos, o Dinho, foi um dos principais assuntos.

Do Globo Rural
A audiência pública aconteceu no ginásio de esportes no distrito de Extrema, a 330 quilômetros de Porto Velho, perto da área onde foi assassinado o líder camponês Adelino Ramos, o Dinho
Agricultores e assentados da região puderam entregar documentos pessoalmente aos senadores e conversaram sobre os problemas enfrentados nos assentamentos. Um professor que representou a comunidade onde Adelino foi morto disse que todos estão isolados e com medo.
Os quatro senadores de Rondônia, Mato Grosso, Amazonas e Amapá, comandaram os trabalhos. Eles fazem parte da Comissão Especial Externa, criada para apurar as mortes no campo na região Norte e para ouvir os produtores sobre a situação que vivem hoje.
Os agricultores reclamam de falta de assistência à saúde, educação e da exploração de grandes fazendeiros que ameaçam os pequenos.
A comissão deve seguir para o Pará, onde vai acontecer outra audiência. Depois de ouvir os assentados e agricultores, um relatório com as propostas de melhorias será encaminhado para a presidência da República e para os órgãos federais ligados à questões agrárias.
A comissão de senadores também esteve na delegacia de Extrema para saber como estão as investigações sobre a morte de Adelino Ramos. Um suspeito já foi preso.