terça-feira, 28 de junho de 2011

Filha de Adelino Ramos pede novo julgamento para irmão que vive foragido


Filha de Adelino Ramos pede novo julgamento para irmão que vive foragido

Texto e Foto Mara Paraguassu

Clauceli Ramos: "Meu irmão é foragido da injustiça e não da justiça"
A audiência pública na Câmara dos Deputados para debater a violência no campo, realizada nesta terça-feira (28), foi marcada pela defesa de um novo julgamento para Claudemir Gilberto Ramos, camponês condenado a oito anos e seis meses de prisão por conta do episódio conhecido como Massacre de Corumbiara.
Clauceli Ramos, filha de Adelino Ramos, líder do Movimento Camponês Corumbiara (MCC) assassinado em Vista Alegre do Abunã (RO) no mês passado por denunciar roubo de madeira, disse que seu irmão é “foragido da injustiça e não da Justiça”. “Onde quer que ele esteja, que seja revisto o caso dele. Que tenha a liberdade porque esse julgamento foi um teatro, foi uma palhaçada”, lamentou Clauceli durante a audiência conjunta das comissões de Direitos Humanos e de Constituição, Justiça e Cidadania. 
Aos deputados e autoridades presentes, entre elas o ouvidor agrário nacional Gersino Silva, Clauceli, emocionada, narrou a dor de perder o pai e não poder conviver com seu irmão Claudemir. “Meu pai morreu do jeito que chegou a Rondônia, vendendo verdura para sustentar a família”, disse, lembrando o quando foi duro ver o corpo de Adelino cravejado de balas.  
Caso Corumbiara
O Massacre de Corumbiara ocorreu na madrugada de 9 de agosto de 1995.  A Polícia Militar de Rondônia, à época do governo Valdir Raupp, entrou na Fazenda Santa Elina, onde estavam famílias de sem terra, na madrugada, caracterizada a primeira ilegalidade da operação de retirada das pessoas.  No confronto, ao menos 12 sem terra foram mortos por policiais militares e pistoleiros.
Dois policiais morreram na troca de tiros. Tido como líder dos trabalhadores rurais, Claudemir acabou processado. Ele e o colega Cícero Pereira Leite foram condenados com base em uma peça do Ministério Público Estadual que considerou uma investigação da Polícia Civil, feita com base na apuração da Polícia Militar. Claudemir é tido como foragido desde 2004, quando se esgotaram os recursos no Judiciário.
Mantendo uma dignidade inabalável, ele não aceita cumprir a pena por considerar que foi definida em um julgamento injusto. À Rede Brasil Atual, Claudemir contou que só tinha nas mãos uma máquina fotográfica, não tendo utilizado armas. “Aonde que uma máquina fotográfica que registra as atrocidades cometidas tanto por policiais quanto por pistoleiros pode assassinar?”, indagou Clauceli.
 “O Estado brasileiro condenou essas duas pessoas para justificar sua forma de Justiça no campo. O julgamento não passou de uma farsa. Qualquer advogado que veja os laudos do processo vai ver que é uma vergonha para a Justiça brasileira”, lamentou Francisco Batista da Silva, representante do Movimento Camponês de Corumbiara. “Tudo tem um lado só. É o lado do latifúndio contra a organização dos camponeses”, disse ele na audiência.
Investigações
Também sobrevivente do massacre de Corumbiara, Adelino Ramos, 56 anos, foi assassinado em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho, em maio passado.  Dinho, como era conhecido, foi alvejado por Ozeas Vicente quando estava em seu carro na cidade com a  esposa para vender verduras.

Movimento Camponês: só trabalhadores que lutavam por justiça foram punidos


Em audiência pública que discute a impunidade dos crimes contra trabalhadores rurais, o representante do Movimento Camponês Corumbiara, Francisco Batista da Silva, sustentou há pouco que a única consequência do massacre na região em 1995 foi a condenação e a prisão de “dois trabalhadores que nada mais faziam que lutar por justiça”. O ativista refere-se à prisão de duas vítimas de Corumbiara, Claudeni Ramos e Cícero Pereira.
De acordo com Francisco Silva, o julgamento dos dois “não passou de uma farsa”. Segundo ele, “o próprio promotor afirmou no plenário que é preciso matar sem terra mesmo, porque ou o Brasil acaba com os eles ou os eles acabam com o Brasil”.
Segundo o ativista, em Corumbiara 335 pessoas “foram torturadas e massacradas, e outros exterminados sumariamente”.
A audiência promovida pelas comissões de Constituição Justiça e de Cidadania e de Direitos Humanos e Minorias ocorre no Plenário 1.
Continue acompanhando a cobertura desse evento.
Reportagem – Maria Neves Edição – Regina Céli Assumpção



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